O que você tem a dizer?

A maior parte dos pensamentos que nos acometem não são da ordem do consciente. Sendo assim, a psicanálise é uma técnica que trabalha com o inconsciente, objeto passível de ser acessado através do método da associação livre: regra que pede que o paciente, suportado e guiado pelo analista, diga daquilo que lhe passa pela cabeça.

Modalidades de atendimento

Atendimento online

Favorito de muitos pacientes, o atendimento online é prático e te atende independente da sua localização no globo, desde que você disponha de privacidade, dispositivos de áudio funcionais e uma conexão estável. É realizado pela plataforma de vídeochamada Skype.

Atendimento presencial

O atendimento presencial é destinado principalmente aos pacientes que não contam com um local de privacidade adequado para a realização das sessões online, mas também àqueles que se sentem mais confortáveis quando escutados presencialmente.

foi bastante tranquila a experiência de hoje, saí de lá com um sentimento agradável.

G.A., Volta Redonda, RJ

quem sou eu?

Olá, seja bem vindo/a! Meu nome é Alyssa SIlveira, sou mineira, psicóloga formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF - VR) e psicanalista em formação permanente. Nas horas vagas, escritora até onde suporta o bloco de notas do celular e fotógrafa dentro dos limites das configurações de câmera do meu telefone.

Nascido no contexto dos estágios na clínica-escola da universidade, meu trabalho tem me oportunizado ouvir e integrar as mais diversas histórias daqueles que, presencialmente ou remotamente, chegam ao meu consultório.

Atualmente, minha clínica é composta por aqueles que buscam se ocupar de construir uma relação outra com as pessoas, as coisas e consigo mesmos, a partir da aposta conjunta de que o caminho pode ser não apenas possível, como também significativamente mais leve, quando encontra uma boa escuta.

E você? O que faz aqui? :)

Passeando pela galeria do celular, achei esses registros da época em que me debruçava sobre os estudos em análise textual para tornar possível o contato com os textos iniciais do curso de psicologia - antropologia, filosofia, sociologia, etc… Desta vez que os li, no entanto, talvez tenham podido me dizer também sobre o trabalho de leitura que se dá em consultório:

“…como é importante, para a leitura, ficar perplexo e saber disso.” - Como ler livros, Adler e Van Doren 📖

#leituranaclínica #texto #sabertextual #clinica #lacan #analistaescreve

o analisar-se como ler e reescrever-se 🖋️📜

#psicanalise #analise #lacan #analistaescreve #clinica #leitura #historias

das coisas que pareciam maiores quando a gente era criança
e das coisas que quando a gente era criança não pareciam tão grandes
#feriado

Dia desses me lembrei de uma conversa daquelas de intervalo de ensino médio. Falávamos sobre o futuro de cada um ali.

Incerta até mesmo se passaria ou não na prova de matemática da semana seguinte, tinha como incógnita ainda maior o que viria após a formatura do colégio. O que? Como? Onde?

Interrompida em meu fluxo de inquietudes, ouvi meu nome sendo mencionado por uma colega na conversa futuresca: “A Alyssa, eu imagino usando aquelas calças de linho, sabe?”

Na verdade, eu não sabia - e a discussão seguiu antes que eu pudesse perguntar que calças eram aquelas - mas, por um instante, pude me ver, no futuro, usando calças de linho - seja lá o que isso fosse.

Seja lá o que isso fosse, era um vislumbre - descrito tão vívido quanto a certeza da prova de matemática que teríamos na semana que viria - de existir num futuro pós ensino médio. Usando roupas que não as daquele uniforme.

👖

Estava num brechó observando as etiquetas das calças - eis aqui talvez o motivo inicial dessa lembrança. “Linho” - dizia o indicativo do tecido.

Me dei conta de que assim o são a maioria das calças que tenho. De fato é um tecido fresco e adequado ao calor do sul fluminense - como um jeans jamais seria.

Experimentei e levei - mais aquela calça de linho. Não pude deixar de me perguntar, no entanto, que calças eu estaria vestindo não fosse aquele comentário.

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 07/74822

#analistaescreve #ditos #historia

• Sobre chorar de barriga cheia •

Quando a imagem que desagrada no espelho reflete um corpo padrão
Quando a criança que chora tem comida no prato
Quando o corpo que sofre assédio pertence a um homem
Quando aquele que sofre “tem tudo”
Quando o corpo que está cansado não trabalha fora

Pra onde vão as dores que não podem doer?
Quais dores podem ser sofridas?
Quais sofrimentos podem ser chorados?
Quais choros são ouvidos?

💧

Fazer análise é poder dizer do que dói
Chorar o que um dia doeu
E ouvir sofrer em si o que ainda não havia se sabido doloroso

Fazer análise é poder chorar de barriga cheia
…só pode chorar de barriga vazia?

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

#analistaescreve #dor #clínica #psicanálise #consultório #analise #lacan

• O mau-olhado •

Mau que olha
Olhar do outro que vê
Desejo pelo que não se tem

Olhos gregos enfeitando joias
Cristais pela casa
E o segredo que protege
- afinal, aquilo sabido pelo outro, falha.
Não conte a ninguém: e o sucesso virá.

Se não tenho, é porque não mereço
Não era pra ser - não agora.
Talvez, depois dessa vida…
Eu “conquiste”
- o que aos outros sempre foi direito.

Assim, aceito.
Não invejo, não desejo, não almejo.

Não luto.

🧿

Mau-olhado, inveja…
…ou seria injustiça?

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

#analistaescreve #desigualdadesocial #mauolhado

Uma porção de países. Dentre eles, os ricos. Pois façamos como eles, não? Adotemos suas políticas: e ricos seremos.

Uma porção de alunos. Alguns vindos de escola particular, outros não. Alguns tiveram ar condicionado na sala de aula, outros, um ventilador e meio. Pois não tratemos com diferença! Na universidade, que sejam todos iguais.

Um par de filhos. Um homem, uma mulher. Pois merecem as mesmas coisas: filho meu, trato igual. Aos meus olhos, não há cor, gênero ou passado.

•

Início da clínica. Eu fazia perguntas pensando em coisas do passado
…os pacientes respondiam pensando em coisas do presente - e vice versa.
Relatei à equipe de estágio: que faço com isso? Me refiro ao agora, e trazem coisas do passado; pergunto de coisas do passado, e são evocados de coisas de agora.

Não sei como teria sido possível que eu esperasse por coisa outra: o tempo é um só.
“A psicanálise só mexe com o passado” - dizem por aí.
E teria como se ater ao presente? Ao agora? Destacar o passado como algo já inútil e condená-lo ao esquecimento?

Aliás… o esquecido, vira o que?
A história, como ecoa?

Pra onde vão os séculos de escravidão, ainda que assinada a lei Áurea?
Pra onde vai o suor, a fome, o calor?
O silenciamento, a desimportância, a dor?

Mas hoje é diferente, já acabou.

...

Já?

Créditos da imagem: @umfilmemedisse
Filme: Ainda estou aqui (2024)

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

#analistaescreve #desigualdadesocial #politica #psicanalise #lacan #clinica #consultorio

As férias da analista.
Já premeditadas pelos pacientes, pelos analistas, pelas piadas na internet:
Cuidado, as psicólogas estão de férias!
Que será dos pacientes nesse intervalo?

Que seria do analista, no entanto, sem que se pudesse não estar?
Que seria de uma análise sem a ausência?

Muito se diz, inicialmente, sobre o como -ser- analista:
Como ouvir
Como falar
Como interpretar
Como intervir

Já se viram experimentando, no entanto, o abster-se de ser?
Já experimentaram o silêncio, ainda que houvesse o que ser dito?
Já experimentaram adiar, pra depois, uma fala que repousava pronta desde o primeiro minuto?

“O que você quis dizer com isso?” - diz o paciente.

E dá-lhe energia. Pra explicar? Esclarecer? Fazer-se entender?
Não. Na maioria das vezes, não. - e isso talvez seja assunto pra outro post.

Recuar. Se abster.
De dizer, de perguntar, de explicar, de concluir.

Um analista também o é quando se ausenta. E das ausências, talvez seja o recesso a mais fácil delas.

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

#ausencia #clinica #psicanalise #lacan #escrita #analistaescreve

Oi. Estou aqui para poder…
falar
…ser ouvida
escutar
ocupar-me de mim
me cuidar
…ser cuidada
sofrer menos
…conseguir sofrer

- Entendi. Que espaço tem tido essas coisas na sua vida até então?

Nenhum.

🪶

A transferência
é uma relação
fadada ao fracasso

#analistaescreve #transferencia #relaçãotransferencial #psicanalise #clínica #escrita

📸 - sala de aula consultório da universidade na época da pandemia:)

Quantas vidas se deixa de viver numa vida?
Fui caminhar esses dias, pós atendimentos. É algo que gosto de fazer.
Na ida, fotografei um pássaro no fio de energia. Por quê? Que há com o pássaro no fio? Não sei. Registrei.
Na volta, 3km percorridos e um punhado de tempo depois, eis o pássaro, no mesmo lugar.

(talvez tenha passado a ser esse reencontro o motivo do registro)

Enfim: estava, o pássaro, no mesmo lugar. Contemplando a paisagem e aproveitando o fim de tarde. Talvez sejam essas palavras humanas demais, mas não importa. O que nos interessa é que seguia lá, o pássaro, passarinhando.

Pensa ele nos voos que deixará, em vida, de fazer? Será que se ocupa, o pássaro, das paisagens que deixará de admirar? Dos ninhos que deixará de construir?

Pois deveria. Tanto mais há no mundo além daquele fio.

Talvez tenha serventia, no entanto, um tanto de conformidade. Sabe a zona de conforto? Pois bem.

Tanto se fala em destruí-la, que, em oposição, talvez seja de se considerar, ao pouso, o fio que há. Com a paisagem que se oferece.

Que a vida não se esgote em tentativa de viver uma que não nos pertença. E que nos sobre força para lutar pelo que, de fato, diz de nós.

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

#analistaescreve #vidasnãovividas #natureza #psicanalise #escrita #clinica #consultorio #fotografia

Meu trabalho: cuidar da cabeça e do coração. 🤌�🏻❤️

- Pedro, 6 anos

#psicanalise #psicologa #psicologia #psicanalista #frasesdecriancas

"É cabeça-dura. Só gosta de trabalhar em causas nas quais acredita"

Das várias afirmações resultantes do teste vocacional que nos aplicaram no ensino médio, dessa eu nunca me esqueci. Lembro de ter sido motivo de riso do aplicador do teste: "você é teimosa?"

Olhei com cara de reprovação. Teimosa? Claro que não.

E desde então, talvez seja quase tudo o que eu tenha sido.

Não, eu não quero fazer medicina.
Não, eu não vou fazer direito.
Não, eu não vou estudar em x cidade.
Não, eu não quero fazer concurso.
Não, eu não quero fazer um mestrado agora.
Não, eu não quero trabalhar em convênios.
Não.

Poder ser teimosa, afinal de contas, talvez seja um privilégio. 2024 não se resumiu em alegrias, mas tenho podido viver daquilo que acredito. Já me é muita coisa.

Obrigada aos que por aqui passaram. Obrigada aos que aqui ficaram.

Que venha 2025.

📸 @psi.marianagilmassa

Noite de segunda-feira. Uma hora e meia nos ocupando de um caso. Sublinha-se aqui, recorta dali. Até que dezenas de páginas puderam se resumir em duas palavras, como um título que pôde ser escrito no topo de um texto recém finalizado. (orgulhosos ficaram os autores rs @augustobronzeado @larissadeolima )

E por falar em títulos, há algo sobre o intitular, o ato de dar nome, que diz não só de uma síntese, Mas também daquilo que se pretende enfocar - ou omitir.

Toy Story poderia ter sido um filme sobre o pai de Andy. Fazendo jus ao título, no entanto, veio a ser praticamente inteiro.... sobre os brinquedos.

Um título define o quê de uma obra ganha vida - e o quê, possivelmente, passará despercebido.

Numa análise, o analista pode ocupar a função daquele que demarca a separação de cenas, atribui foco ao que julga relevante e, acima de tudo, intitula.

Um título se cria a partir de um texto. O ato de intitular, no entanto, não se dá sem um viés: este, por sua vez, sempre em função de algo - estando o autor advertido disso ou não.

Como - e a partir de quê - temos nomeado nossas histórias?

🪶

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

Quando eu era pequena, minhas senhas eram todas "veterinária". Uma palavra, ao meu ver, enorme e complexa - como senhas deviam ser. E também aparentemente uma das que mais ocupavam meus pensamentos.

Não me tornei veterinária. Mas, na verdade, talvez não seja exatamente isso o que eu mais admirava na sua profissão, mas a forma como eu a assistia praticá-la.

Afinal, talvez o que sustente um fazer clínico - seja ele com humanos ou animais - seja cuidado, zelo, e acima de tudo: esperança. E como você tem esperança.

Acho que não sou a única a achar um trabalho um tanto bonito de assistir... (feliz aniversário, dindinha 🤍)

• Minúcias •

Decidi por começar uma análise
Pra descobrir que é que se passa comigo
Coisa pouca, não devia ser.
Tava pra vir coisa grande
E eu, será que sou gente de aguentar esses trancos?

Sessão vai, sessão vem...
O negócio é que tenho tropeçado mesmo é numas miudezas
Nada que algo em mim já não tivesse, ali, as reparado
Nada que tenha feito de mim outra pessoa

Mas sabe, essas minúcias...
Tanto minuciaram
Que me percebi amiudada

🍃

Alyssa F. Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

📷 @psi.gabrielavicinanca

#minucias #analise #clinica #psicanalise #consultorio #psicologia #escrita #lacan

Pós um bom tempo desde a última apresentação, talvez seja o momento de uma outra :)

Olá! Meu nome é Alyssa. Cresci em Caxambu/MG, uma cidade que, apesar de minúscula em extensão, possui a maior concentração hidromineral do planeta. Em contraste, hoje vivo e trabalho em Volta Redonda/RJ, cidade do aço para onde me mudei aos 17 para dar início à minha formação profissional na Universidade Federal Fluminense - a UFF.

Desde o primeiro ano de graduação, ao me defrontar com a densidade e complexidade dos textos das disciplinas, me dediquei extensivamente aos estudos em análise textual. Também nesse mesmo período, nasceu a minha curiosidade - que nunca mais cessou - pela psicanálise lacaniana.

A imersão nesses dois campos pôde se dar, também no âmbito prático, através da condução de monitorias do primeiro ao último ano, assim como nos quatro semestres de estágios em psicanálise na clínica escola da universidade. Assim, pude escrever meu trabalho final sobre o possível lugar da análise textual numa profissão cuja prática é dita como "mística" e reservada a poucos, sejam aqueles que tem "o dom", "a experiência" ou, muitas vezes, os "recursos $".

Assim, amparada pelo - a mim indispensável - incansável percurso de análise pessoal, assim como pelo potente dispositivo das supervisões entre pares, sustento minha aposta de que a complexidade da teoria psicanalítica pode ser acessada a partir da análise textual - cujas ferramentas são, também, o que sustentam meu trabalho em consultório: o da construção de uma leitura analítica a partir daquilo que é dito, oferecendo ao paciente a possibilidade de uma escuta que vai além do elementar.

Desse modo, tendo em mente os princípios da @somosarigo , cooperativa que integro desde o início da minha atuação profissional, fica aqui registrado o desejo de que essa jornada possa vir a ecoar também para além do consultório e encontrar formatos outros de troca e partilha para com os pares e a comunidade.

Com esperança,

Alyssa Fernandes Silveira
Psicanalista | Psicóloga CRP 05/74822

#apresentação #psicologia #cooperativa #psicanalise #analisetextual #leitura #clinica #lacan #consultorio

• Finitude •

Há vidas vividas como se não se morresse, seja lá o que isso for:
o esportista que se arrisca
o avô que evita o médico
e o médico, cuja medicina se diz infalível

Há vidas vividas como se não se morresse
E o amanhã fosse palco assegurado da vida que se adia

Há, no entanto, quem viva como se estivesse de saída:
não tarda a chegar
entrar
se achegar
tirar os sapatos
fazer-se vincular

Outros, no entanto...
ficam na porta
de pé
com a bolsa nos ombros
e o sapato nos pés

afinal
de que adiantaria entrar
se já estamos de saída

👞 #finitude #vida #escrita #clínica #psicanáliselacaniana #lacan #psicanalise #throwback #buenosaires

No elevador, tão antigo quanto os primeiros moradores do prédio, em seus longos minutos até meu andar, acontecia uma conversa entre os presentes sobre saúde mental.

Apreciando a preciosidade de poder escutar o diálogo antes de ser descoberta uma psicóloga ali presente, ouvi:

"Nossa, como as pessoas são complicadas".

Pós um par de comentários, disse em alto e bom tom uma senhora, interrompendo a rodada de lamentações:

"Que sorte é ser maluco hoje em dia, isso sim. Antigamente era direto pro manicômio."

•

Pensei em cada um que chega à clínica em busca de uma análise. Prestes a dizer das coisas que não se costuma sair dizendo por aí. Coisas guardadas por, às vezes, 10, 20, 40 anos.

Pensei na aposta que pôde ser feita, por cada um, em um espaço de escuta. Depois de tanto tempo de espera, num mundo em que o cuidado com a saúde mental é, ainda, um tabu - e dos grandes.

Apostas que por vezes não eram mais a primeira, mas a terceira, a quarta tentativa de encontrar um espaço de cuidado.

•

Psicanalistas: profissionais que se formam para poder escutar. Que banal. Escutar... não é qualquer um que escuta?

Bom, já que temos precisado dizer do óbvio... não.

E ainda que nosso trabalho repousasse "só" numa escuta, o que não é um fato, o quanto já seria.

Não é sempre que se tem o direito de sofrer;
não é todo sofrimento que recebe direito a escuta.

Estaríamos, então... romantizando o sofrimento de uma análise?

Sim.

Poder sofrer
Poder sofrer em análise
Me parece, sim, um privilégio.

#analise #psicanaliseclinica #saudemental
#lacan #escuta #psicanáliselacaniana #psicanalise

"Yo no busco, yo encuentro"

🪶 Picasso, citado por Lacan no seminário 11.

#throwback #memorias #fotografia #psicanalise #citas #lacan

• O tempo da sessão •

Os minutos marcados pelo cronômetro no canto do Skype; o tempo entre um paciente e outro; o famoso e por vezes mal dito "corte lacaniano".

Tempo por vezes também aludido como acusando certa rispidez ou ausência de cuidado: "a sessão foi só de meia hora!"

Mas ah, a cronologia... Há semanas de um mês. E meses que duram uma semana. Quê então poderia ter a dizer o relógio - ou o tempo que tarda a se mover o sol pelo céu (como se fosse ele quem se movesse)?

Talvez possamos dizer de quando inicia. Às 10, às 15. E ali, naquele intervalo, se depositam falas, silêncios, dizeres e questões. Até que seja preciso que algo se mantenha em suspenso por uma pausa de mais de um par de minutos.

"Quer dizer mais alguma coisa sobre isso?" - pergunta a analista.

- Não, por favor.
Me deixe degustar
o privilégio
de ter podido me ouvir.

•

Peço, assim, que reserve em torno de uma hora. Há quem goste de reservar a tarde. Venha advertido, no entanto, de que talvez ecoe por uma vida.

#psicanalise #tempo #clinica #tempológico #consultorio #lacan #psicanaliselacaniana #analise

dos males e belezas de viver e trabalhar na cidade do aço

Na época da escola, decidi que queria um caderno-fichário. Nem um fichário que não cabe na mochila, nem um caderno com folhas fixas. Eu queria poder remover as páginas quando as letras do título não ficassem perfeitas, queria poder trocar de ordem quando errasse a matéria, e queria poder carregar comigo só o útil: o antigo, que ficasse destacado e guardado na gaveta.

Bom, tratando-se de cadernos, dava pra fazer.

E lá foi meu pai arrancar as argolas de um fichário e colar na capa de um caderno. E nasceu o dispositivo de anotações que usei do ensino médio à faculdade.

Esses dias minha avó fez menção aos "papéis onde eu escrevia minhas coisas". "Você guarda, né?". E ficou surpresa em saber que nada mais é em papel. Tudo digital. Apagar, reorganizar, excluir, recortar: nunca foi tão simples.

Ganhei de aniversário um caderno-fichário "inteligente". Esse já veio originalmente desconstruível de fábrica ✨🌸 @ciceropapelaria 🌟🗣️💅🏻

Ainda assim, papel. Os erros deixam suas marcas. Palavras uma vez escritas não mais se apagam por completo. O escrito parece mais... vivo? Talvez me assuste a concretude das palavras.

Muito arriscada essa coisa de pôr palavras no mundo. Dá-lhe coragem pra escrever.

((@psi.gabrielavicinanca , obrigada pelo presente🌹

#escrita

"Eu era muito nova, não sabia nada da vida"

Início da clínica e vinte poucos anos, ouvia apontamentos e ditos sobre idade como caros à minha profissão. "Quero ser atendida por uma mulher mais velha" - ouvia de amigos e familiares em busca de dar início às suas análises. Justo. Afinal, os mais novos, quê sabem das coisas?

Ia às supervisões em busca de respostas. Que é que eu digo? O que eu respondo? Como soluciona? Existia a coisa certa a se dizer e ela não estava ainda ao meu alcance.

Bom, se é que o tempo ensinou algo, foi que a vida é sobre saber, cada vez mais, menos. Sobre um mundo que, de tão diverso, talvez não possa ser só aquilo que se aprendeu, ainda que agorinha mesmo.

E caminhar sob um terreno incerto não se dá sem um tanto generoso de curiosidade. Curiosidade ao ouvir uma nova história, a cada sessão, como se fosse nova - porque ela o é.

"Me fala mais disso daí?" "essa palavra, o que é?" - e lá vai a psi inexperiente perguntar, de novo, do que já deveria saber. Não é óbvio?

Mas ahhh, as perguntas bobas e óbvias! Que trabalhoso pode ser dizer daquilo que, de tão rígido, já repousa concretado.

Tanto tempo me sentindo em falta das respostas... Mas talvez possa mesmo ser sobre fazer boas perguntas.

27 de agosto | dia do psicólogo

#psicologia #27deagosto #diadopsicologo

Quando criança, era frequentemente frustrada pelo tempo de obturação das câmeras dos celulares. Três segundos eram muita coisa: o que eu queria não estava mais lá.

Hoje é quase instantâneo. Ainda assim, entre o ver, tirar o celular da bolsa e o capturar, existe um mundo. Entre a foto imaginada e a capturada, um mundo maior ainda. "Passou alguém na frente bem na hora" - e sabe-se lá o quê a minha singela câmera de celular vai fazer com isso.

•

Quando os anos de estágios obrigatórios na universidade tiveram início, poucos eram os pacientes pra tanta curiosidade em atender. Muito era o preparo pra tão pouco tempo em sessão. E não é que, não obstante, o paciente quase nunca dizia o previsto? rs

Com o tempo, ao início de cada sessão, veio a ciência de que, embora possa ser avistado um horizonte, o caminho e o fim serão, sempre, uma surpresa. Obviedades que tardam a aparecer.

•

fins de sessões.
...bem como passeios pela galeria do celular ao fim do dia 🖼️

têm sido boas e interessantes surpresas:
me deparar
com o que pôde ser capturado
daquilo que avistei

#semanadafotografia #fotografia #clinica #psicanalise #psicanaliseclinica #diadafotografia #clinicalacaniana

Levou algum tempo pra esse post aparecer por aqui. Anos, aliás. Ora estava colorido demais, ora cinza demais. Ora simplista e vazio, ora beirando o brega. Faltava algo. Os meses de canva expiraram e lá seguia ele: quem sabe um designer teria feito melhor?

Hoje fui procurá-lo pra virar postagem e, pós fazer a captura de tela - pois o canva expirado não permitiu o download em Full HD - me percebi publicando algo cuja imperfeição não dizia apenas desta imagem.

Parece estar sempre faltando. Um degradê, um contraste, uma fonte melhor. E também um fone de ouvido mais tecnológico, um consultório mais confortável... talvez um endereço que não tenha barulhos - sem o moço da rua e seus instrumentos tocando por *toda* a tarde.

Um dia esqueci desligado o redutor de ruídos do Skype num atendimento. "Nossa, essa música de fundo... Deixa mais vezes."

Eis aqui, então, uma imagem que podia estar melhor. Feita por uma autora que, tal qual a obra, tem descoberto o quanto, em falta, se pode fazer. E não é que tem sido um trabalho bonito de se viver? 🤍

Talvez seja sobre a beleza do inacabado - já que, alinhado e perfeito, só aquilo que é de mentira... E a vida costuma ser de verdade.

#voltaredonda #analise #clinica #psicanalise #psicoterapia #analiselacaniana #consultorio #terapia #psicologia #psicanalista #lacan
...

Esses dias ouvi num podcast que é coisa de mineiro dizer que "mudou", sem os complementos e afins pra sinalizar que se trata de uma mudança de endereço. Talvez dessa forma mineira me sirva mais, pra dizer de mudanças não só de lugar - quem sabe todas elas, afinal?

Enfim. Por conta da psicologia, mudei aos 17. Carregando não muito mais do que alertas da minha família sobre os "perigos do estado do rio" - quem sabe um mapa no bolso pra não precisar ficar olhando o celular na rua? Pois desenhei o mapa em papel e vim rs.

Essa semana achei esse mapa guardado, intacto e sem uso, na mesma pasta em que veio. E ainda que eu tenha percorrido meus próprios caminhos, foi feliz o pensamento de poder ter estado acompanhada por guias.

E, a cada despedida dos que tanto estiveram por aqui, é estranho o sentimento do quanto ficou.

"Essa flor é de quando a Gabriela foi embora! Nossa, ainda está por aqui" - lembrou um amigo.

A flor e mais um tanto.

Como pode... Tanto se deixa, tanto se muda...
E seguimos as mesmas.

Talvez seja sobre escolher bem nossos guias. E valorizar aqueles que, ainda que escolhidos ao acaso, nos fizeram mais de nós.

(@renatamf_ , o texto acabou virando sobre outras coisas 🙃 mas ainda é pra ficar registrado o obrigada e o boa viagem🌹

#despedidas #analistas #mudanças #psicanalise

Um recomeço de semana com memórias 🍃🏡 #julho

🌸

#psychotherapy #therapist #psicanálise #psicologia

apenas um solzinho de quase inverno e sem textos por hoje ☀️🌬️

#julho #intervalos #entreatendimentos

Que é uma análise
senão olhar para o que se vê
mostrar a um outro o que se captura
e, quem sabe, por um acidente...
poder enquadrar partes outras da mesma cena?

que é uma análise, senão...
cansar-se da mesma vista
queixar-se do mesmo ponto
e, quem sabe, por um tropeço...
vislumbrar um ângulo novo?

que pode ser uma análise, que..
ainda que tantas fotos já tiradas
tantos filmes revelados
lança foco e luz a um canto antes escurecido
aquece as cores antes frias

e, por que não...
cultiva o olhar à beleza.
daquilo que
desfocado
esmaecido
colorido
ou preto e branco:

é uma obra de arte

📸 registros de um ofício que não se atém ao consultório. #fotografia #psicanalise

As ruas tortuosas e desconhecidas
os olhares curiosos das senhoras nas sacadas
os pombos desconfiados ao meu redor, relutantes em se aproximarem das migalhas deixadas pela ex ocupante do banco

tudo, à sua maneira, dizendo:
"Você não é daqui."

os tucanos no topo das árvores
os gritos das crianças brincando num parquinho próximo
e os conhecidos que se esbarravam e ali ficavam por um tanto:
"nasceu, o neném?"
como se não fosse uma segunda feira

três páginas de livro depois - leitura essa tão frequentemente interrompida quanto o pareceu
os pombos terminaram as migalhas
um senhor perguntou se eu tinha as horas
e eu mal sabia se era domingo ou quarta feira

peguei de volta na bolsa esse dispositivo pelo qual escrevo
e acusada pelo aplicativo do maps ainda aberto...
não sou mesmo daqui.

mas talvez algo daqui me seja

A cada lance de escadas entre o velho e o novo
num percurso percorrido 5758 vezes
e levando nos braços aquilo que dali carregaríamos...

ecoava a lamentação pelo que ficaria pra trás.

o banheiro de azulejos rosa
o guarda roupa espaçoso
seis anos de vivências ali
e os botões do elevador... aposto que seguiremos apertando o andar antigo por engano!

segue a espera.
de, quem sabe, por um descuido, apertar o 8 ao invés do novo andar...
acusando a falta de um espaço e tempo não mais passíveis de acesso.

talvez, no entanto...
tenha se feito suficiente o que coube nas caixas
baste o novo banheiro bege
e o armário imenso... nem era tão preciso assim.

#mudanças

Era uma vez uma manhã de atendimentos que foi adiada de última hora por motivos de substituir uma colega na apresentação da @somosarigo , cooperativa que integro há já uns bons meses, na pré mostra do @crprio 🌟 @lanapsicologia , espero que esteja se sentindo melhor e que nós tenhamos conseguido transmitir algo da mensagem que voce havia planejado 😬

apesar da correria (obrigada @psiphgoulart pela parceria e suporte 🌹), foi uma manhã muito proveitosa e esperançosa!!

#prémostra #crp #apresentação #mostracrp

Das companhias essenciais à jornada. Feliz vida, @augustobronzeado ✨🎊

ela vale ouro por aqui! ❤️

"Acho que tô com frio" disse a criança, nunca antes vista com sapato e blusa ao mesmo tempo, pela primeira vez em 6 anos.

Constatações climáticas não psicanalíticas do feriado. 🥶

Uma sala de aula que ia sendo preenchida pelos alunos. E um burburinho de início de aula que ia dando espaço a outros elementos da cena: ocupando todo o quadro, um endereço eletrônico escrito por completo, sem excluir nenhum dos seus https. Na mesa, uma redação toda riscada em vermelho e com nota, bem evidenciada, 0. Atrás da mesa, uma professora que, pós montado todo o cenário, anunciava furiosa o escândalo à turma: aquela redação era um plágio do texto daquele link.

Risadas e conversas foram imediatamente silenciadas e substituídas por trocas de olhares espantados, enquanto a acusação ia recebendo cada vez mais detalhes: "uma criança não escreveu isso". Não havia dúvidas, era plágio.

.

O que me admira, nessa cena, é a certeza dessa professora. Capaz de sustentar a crença na sua verdade a cada caractere do longo endereço que escrevia na lousa. Que não só pôde riscar toda uma folha de redação, como, o fez, à caneta. E, segura, se autorizou a afirmar, a uma classe, que um dos seus havia cometido mais do que uma falta moral: um crime.

Saudade dos tempos de certezas. Em que as coisas eram, e o eram, de fato. E não se fala mais nisso. Em que, se fulana é chata, e eu com isso? E vive-se a vida.

Hoje é tudo relativo. Tudo questionável. Será mesmo que é chata? Por que eu vejo como chatice? Por que essa chatice me incomoda? Que é que isso diz de mim? E blá blá blá. Mi mi mi.

Guardando no bolso a interrogação e algumas certezas depois, no entanto...

A folha já tinha sido riscada
os olhares, trocados
a nota, zerada
a acusação, feita
e o texto... era meu.

#psicanaliseclinica #psicanáliselacaniana #cronicas

"Quanto é sua sessão?"

A pergunta que permeia conversas entre analistas, pacientes e, por vezes, aquela que inaugura o contato com um futuro profissional.

Transmite também a ideia de que o que é quantificável em moedas é o momento da sessão. Aqueles 58, 37 ou 43 minutos semanais.

Esses minutos, no entanto, dizem apenas de um breve momento de uma relação analítica cujos efeitos não se atém aos encontros semanais, mas ultrapassam o perceptível, o calculável e o consciente: não só no analisando, como também, e principalmente, no analista.

E dá-lhe estudo, análise pessoal e supervisão, pra que seja possível, ao analista.... proteger-se dessa relação? blindar-se desses efeitos?

Não. Muito pelo contrário.

O aparato de uma formação em psicanálise é o que permite que o psicanalista se coloque - com todas as suas questões, vivências e neuroses - no cerne da relação com o paciente. Que possa, ali, localizar-se naquele texto, o qual não lê ou interpreta de fora, mas de dentro.

Sem dispor de luvas, máscaras ou qualquer instrumento de proteção, ele é imergido na rede de relações daquele ser de linguagem que o procura. Para, quem sabe, poder fazer o que, aos outros personagens daquela história, talvez não tenha sido possível: traduzir, em palavras, como é estar ali.

🪶

Alyssa F Silveira
Psicanalista | Psicóloga
CRP 05/74822

Chegam, à clínica, humanos. Intrigados por algo que neles fala, incomoda ou, muitas vezes, dói.

Mas dessa coisa que aparece atrapalhando, sem apresentar seus porquês e sem ter motivo algum de seguir se repetindo, pensando e sentindo em si..... não se tem tanto a dizer.

"Queria mesmo era contar de uma coisa que aconteceu essa semana. E de um fulano que é a chatice em pessoa. E isso que você disse me lembrou a minha vó. Sabe a minha vó? Diziam que ela também era assim como estávamos dizendo."

E olha só. Talvez uma mulher como essa avó, que viveu na época em que viveu, teria o que dizer daqueles porquês e afetos cujo sentido havíamos jurado inexistente. Quê será que ela diria?

.

E dá-lhe construção. Conjunta. De uma história daquilo que, um par de parágrafos atrás, não tinha alguma.

"Quantas vidas a gente escuta numa análise" - estava ontem mais cedo ouvindo a conversa de @joaofelipedomiciano e @larissadeolima

E dizem por aí que a psicanálise ~só se ocupa de infância, mãe e pai. Poxa. Aí a gente vai precisar de mais que um post. Quem sabe um bolo e um pão de queijo dêem mais conta dessa conversa.

Você não é daqui, né? - ouvia, a cada Uber que pegava recém chegada na rodoviária, desde que estudar psicologia em outro estado tinha virado realidade. Pouco mais de três horas de viagem, mas que já demarcavam diferenças regionais que não passavam despercebidas.

E que seguiam: "pode estacionar nesse passeio de cá mesmo, por favor"

-Oi?

No quarto passeio não compreendido, mudei pra calçada. Mas falava como uma palavra estrangeira, "calçada". Que nunca deixou de ser um som estranho que ecoava.

Desde quarta-feira, com sua sequência de grupos pela tarde, fiquei pensando no espaço das sessões.

No quanto, por muitas vezes, não será de forma natural que vão contemplar os passeios. E assim, ouvimos, dos pacientes, desculpas. Desculpas por falar palavrão, desculpas por falar confuso, desculpas por falar chorando, desculpas por falar.

E ainda que não seja este o modus operandi do mundo, que nos seja possível ouvir os passeios. Falem dos passeios.

Não peçam desculpas por falarem como falam. Ou peçam, mas falemos disso.

Porque não custa nada calçar as palavras em nome de se adequar ao contexto. E diminuir o sotaque "pra passar mais seriedade". E.. ai... Talvez já esteja custando demais... Demais da conta.

"No passeio da direita, moço. Perto daquele trem amarelo riscado no chão"

-Ah, tá.

🙃

"Lacan é difícil. Muito difícil."

E assim se viu, quase que automaticamente, recalculando rota. Quem sabe pegar um livro de Gestalt na biblioteca da faculdade? Ou talvez, então, reconsiderar a psicanálise freudiana? Afinal, a lacaniana era -a- difícil. E não se fala mais nisso.

O lacanês, no entanto, não saiu da reta, e ainda convocou novamente de uma forma quase que inevitável.

O difícil, por sua vez, seguiu.
Tudo era um esforço. Os livros, mal traduzidos. Lacan, um desastre em se fazer entender. A formação, desafiadora. Esforço pra ler. Esforço pra estudar. Esforço pra entender. Esforço pra falar. Esforço pra atender.

Não havia nada em ser analista que se dava de forma fácil. E quando o era, não o teria sido sem os anos de formação que o precederam.

Que duros aqueles que alarmam iniciantes da teoria lacaniana, desistimulando-os ao dizê-la tão difícil.

Ou, talvez, possa ser menos sobre um percurso que é, de fato, desafiador, e mais sobre outra coisa.

Que corpos são esses ditos como incapazes de lidar com o difícil?
Que corpos são esses aos quais, diante do esforço, não resta alternativa que não recuar?
O difícil, o esforço... Quem é que os suporta?

Tem gênero?
Tem classe?
Tem cor?

Nas últimas férias, achei uma caixa de livros que escrevia quando criança. Não os direi o tema pra que não seja perdido o charme dessa afirmação rs.

Com os anos, fui de uma escrita pelo barato de confeccionar e decorar livros
...à escrita pra lidar com o difícil.
Da escrita exigida pela universidade, ou até aquela supostamente obrigatória para estar presente na redes sociais
...até a escrita (certamente essa a que mais me convoca) que vem em resposta à beleza de escutar seres falantes.

A grandeza de uma simples frase. O privilégio de ouvir ressoar algo dito, ali, pela primeira vez. Ou até o sentido de um silêncio.

Dar nome ao que adoece.

Sou suspeita pra dizer, mas acho um trabalho muito bonito. E ainda que seja inevitável que o que foi ali dito e sentido não morra em cada sessão, acho um feliz destino quando algo desse efeito vem parar, também, no papel. 🤍

Quê vocês, seres de linguagem, fazem com os efeitos de percebê-la ecoar?

Tarde de quinta feira e me percebi com 1h de intervalo. Uns bons meses que não fazia um bolo
...e um armário da cozinha de alguém que há uns bons meses não fazia bolos. Mas quem sabe as sobras bastem.

Não quis a decepção de me perceber sem todos os ingredientes, então comecei o preparo antes de checar se os tinha.

...faltou.

E a aveia entrou no lugar da farinha faltante; o açúcar mascavo foi escasso mas... tinha metade de uma laranja na geladeira. E que o fermento vencido faça seu trabalho, pois desconheço substitutos.

Enquanto o bolo esfriava, o papo e a troca psicanalítica de toda quinta. E uma frase que @augustobronzeado disse que me lembrou do bolo que ficou na cozinha. E de outras coisas também:

Às vezes o que nos sobra é bastante coisa.

...mas, e o bolo?

"O cheiro tá igual ao da minha vó" - me disseram com o forno ainda ligado.

Talvez o segredo das avós esteja em topar a aposta de receitas incompletas.

...e assim nasceram os bolos de cenoura adoçados com laranja 🤍🍊

detesto o escasso.
lâmpadas incandescentes e amarelas
casas apertadas
roupas usadas
dinheiro que falta.

me atordoa a rotina
faço do banal um pesadelo
do costumeiro, um assombrado
e dos planos uma angústia

em nome de fugir do pouco
correr da miséria

aniquilar o simples

caiu na complicação

• Sobre sessões que nos incluem •

Vez ou outra aparece nas sessões alguma frase ou dito popular -daqueles- que atravessou toda uma geração e que, por vezes, gera sofrimento ao paciente.

Com sorte - e um tanto de lógica 🙃 reorganizamos aquela escrita de uma maneira que autorize ao movimento aquele texto antes engessado.

Ao comunicar aos pacientes essa nova leitura, por vezes recebida com um espanto de quem se surpreende de não tê-la visto antes, ali sempre disponível como alternativa, espero que escutem-a advertidos de que...

Não eram os únicos padecendo dos efeitos daquelas palavras e aprisionados em seus sentidos.

E para além de toda uma sequência geracional que cresceu as escutando, eu, que como analista não estou resguardada desses efeitos, agradeço a oportunidade de termos construído juntos uma outra versão. Também me serviu. 🤍

Um recesso com tempo suficiente.
Pra que a psicanálise pudesse sair de foco...
...e tornar a fazer falta na rotina - como analisanda e analista.

Retomemos! 🌸

Escrevi 58 variedades de textinhos de feliz ano novo, mas acredito que todos eles vocês receberão das suas tias com imagens floridas ao fundo e portanto os pouparei da leitura.
Acredito também que "feliz" é um adjetivo que contempla muito pouco frente a tudo o que é possível de ser.
Desejo então que, nesse ano, não só a felicidade, mas tudo aquilo que escapa dela, encontre lugar.
Que 2024 seja.
Que, o que quer que ele seja, possa ser falado.
...e que encontre uma boa escuta. 🤍

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Fotografias e escritos:

@psicanalyssa

Alyssa Fernandes Silveira